Nova versão do clássico homônimo de 1922, “Nosferatu” tem direção de Robert Eggers (‘A Bruxa’) e concorreu neste ano ao Oscar de Melhor Maquiagem e Cabelo. Suzanne Stokes-Munton (Hair Designer), Traci Loader (Makeup Designer) e David White (Maquiagem Protética) concorreram na categoria por seu trabalho no longa de terror gótico, já disponível no Prime Vídeo.
Eggers sonhava com o projeto há dez anos e só conseguiu tirar o filme do papel depois de provar seu talento com “A Bruxa” — sua estreia na direção de longa-metragem —, “O Farol” (2019) e “O Homem do Norte” (2022).
Sua refilmagem de “Nosferatu” tem como maior inspiração o clássico de 1922 dirigido por F.W. Murnau, por sua vez baseado no romance de Bram Stoker (1847-1912) e um marco do expressionismo alemão que imortalizou Max Schrek no papel do Conde Orlok. Em 1979, Werner Herzog lançou a primeira refilmagem da história, “Nosferatu, o Vampiro da Noite“, com Klaus Kinski e Isabelle Adjani nos papéis principais.

Na nova a versão, Bill Skarsgård, que já tinha se transformado no diabólico palhaço Pennywise de “It”, vive o Conde Orlok (o Conde Drácula da obra original), Willem Dafoe interpreta o Professor Albin Eberhart Von Franz, e Lily-Rose Depp encarna Ellen Hutter, objeto de obsessão do vampiro.
Filha dos atores Johnny Depp e Vanessa Paradis, Lily-Rose surpreende no papel, na pele de uma mulher levada ao desespero por sua ligação sobrenatural (e carnal) com o Conde, na Alemanha de 1838. Sua personagem ganha agora mais destaque, sendo atormentada até em seus sonhos pelo vampiro, que irá tomar forma à medida que o enredo segue a história original, com seu marido — Thomas Hutter (Nicholas Hoult, o novo Lex Luthor de “Superman”) — seguindo viagem de Wisborg para a Transilvânia.
É nessa mítica terra dos contos de vampiro, localizada nas montanhas dos Cárpatos, que não só o mocinho irá encontrar o Conde, como Eggers demonstrará seu olhar minucioso à ambientação e folclore da região. A fotografia de Jarin Blaschke, os figurinos de Linda Muir, e o design de produção assinado por Craig Lathrop e Beatrice Brentnerova — todos indicados ao Oscar 2025, assim como a equipe de maquiagem e cabelo —, contribuem para a construção da atmosfera e tensão que é a marca do diretor do celebrado “A Bruxa”.
Com Thomas correndo perigo no castelo do Conde, Ellen vai sucumbindo à influência do mal, sofrendo uma série de alucinações, convulsões e dores diagnosticadas como histeria. Em suas cenas de sonambulismo e possessão, Lily-Rose impressiona, lembrando a entrega física e emocional de Isabelle Adjani no cultuado “Possessão”, de 1981.
Em comparação com as outras versões de “Nosferatu”, o filme explora ainda mais o sofrimento da protagonista, adentrando os campos da depressão, do desejo e da repressão feminina — que pode ser representada aqui, por exemplo, pelo uso dos corsets.
Se a atuação (e caracterização) de Ellen é a grande sacada deste novo “Nosferatu”, novo também é o visual do vampiro, que é mantido nas sombras por boa parte do filme até ser revelado por um irreconhecível Skarsgård. O marketing do filme soube manter ao máximo o mistério em torno da incrível transformação do ator, tornada possível graças ao brilhante trabalho prostético de David White @alteredstatesfx e equipe.

Skarsgård ficava na cadeira de maquiagem de 4 a 6 horas para aplicação — dependendo da cena — e mais 45 minutos para remoção, diariamente.
Só na cabeça, foram usadas próteses para pescoço, costas da cabeça, queixo, lábios superiores e inferiores, orelhas, nariz, testa e dorso nasal. Além de próteses para as mãos, com oito extensões de dedos com as unhas mais dois polegares.


Ao todo, eram aplicadas 62 (!) próteses no corpo do ator por uma equipe de seis profissionais em média. Certa vez, 16 pessoas trabalharam juntas na aplicação, segundo White, que já acumula três indicações ao Oscar no currículo — além de “Nosferatu”, ele concorreu antes por “Guardiões da Galáxia”, em 2015, e por “Malévola – Dona do Mal”, em 2020.
Para o especialista em maquiagem protética, muito do sucesso da caracterização do Conde Orlok se deve ao preparo de Skarsgård, que apareceu no início das filmagens com pouco percentual de gordura, o que facilitou o trabalho da equipe para moldar e aplicar as próteses no corpo do ator. Sua estrutura óssea e olhos expressivos só ajudaram na caracterização, que causou alguma polêmica entre os puristas por se diferenciar do Orlok do clássico de 1922, sobretudo por causa do bigode. A explicação para a mudança vem do fato do Conde ter origem nobre — e naquela época quase todos os homens de posição usavam um.
Se White e sua equipe puderam manter Orlok nas sombras em boa parte das cenas, a makeup designer Traci Loader @traciloader — responsável pelos demais personagens —, enfrentou desafios diferentes. Um deles foi adequar a maquiagem à iluminação da fotografia dessaturada (ou seja, de cores esmaecidas, pálidas) quase preto e branco do filme.
NOTA DA MIRELLA: Na foto abaixo, Traci Loader aparece retocando Lily-Rose Depp durante as filmagens. Observem a personagem Ellen ao longo do filme: ela vai ficando mais e mais pálida, e isso é demonstrado pelo trabalho de maquiagem de Traci, que ajuda a expressar todo o seu sofrimento e possessão durante a história.


O cinema é uma arte coletiva: graças ao talento de profissionais brilhantes como os maquiadores Traci Loader, David White e a designer de cabelo Suzanne Stokes-Munton que a concepção visual do filme nos transporta para outra época — e mais um mergulho visceral de Robert Eggers pelo fantástico.
Pesquisa e texto: Eduardo Lucena



