Um dos maiores especialistas em maquiagem protética da atualidade, Mike Marino é o responsável pela impressionante transformação do ator irlandês no Pinguim de “Batman”, de 2022, e na minissérie derivada do filme, de 2024. Prosthetic makeup designer três vezes indicado ao Oscar, Marino foi homenageado com o prêmio 2025 IndieWire Honors Wavelength, por seu brilhante trabalho ao lado de Farrell na série “Pinguim” da HBO.
Realizado pelo Indiewire — site que é referência na cobertura de cultura e entretenimento nos EUA —, a cerimônia de premiação aconteceu em Los Angeles dia 5 de junho e celebrou também talentos como Ben Stiller, Owen Cooper, Julianne Nicholson e Kathy Bates pela excelência de seus trabalhos na televisão.
Em seu discurso de agradecimento no evento, Marino afirmou: “Significa muito ser reconhecido por algo que foi inteiramente feito por mãos humanas. Apenas argila, cola, borracha, inspiração e o propósito de criar algo especial. Sem IA envolvida aqui. Sem atalhos, apenas tempo, pensamento e confiança. E Colin Farrell estava totalmente comprometido, sou grato por sua paciência durante o processo…”
Com quase três décadas de carreira — e 85 créditos listados no site imdb.com —, Marino foi criado em Nova York e, ainda no High School (espécie de ensino médio norte-americano), já experimentava com maquiagem artística testando nos amigos.
Celebrado por “O Exorcista” (1973) e “Amadeus” (1984) — pelo qual venceu um Oscar —, o lendário maquiador Dick Smith (1922-2014) ficou impressionado com o portfólio amador enviado por Marino e assim se tornaria mentor do jovem que teve sua vida mudada, aos 5 anos de idade, após assistir e ficar impressionado com “O Homem Elefante”.
Marino começou então o curso Advanced Professional Makeup Course, ministrado por Smith, e logo começou a pegar seus primeiros jobs na indústria, na área de special makeup effects. Trabalhou na TV em “Saturday Night Live” e “Buffy the Vampire Slayer”, até se destacar como special makeup effects designer de três filmes lançados em 2007: “Anamorph – A Arte de Matar”, “Encantada” e “Eu Sou a Lenda”.
Seguiram-se vários jobs já como prosthetic makeup designer, entre eles “Namorados para Sempre” (2010), “Cisne Negro” (2010), “MIB: Homens de Preto III” (2012) e “O Lobo de Wall Street” (2013), até que em 2014 lançou o Prosthetic Renaissance, seu estúdio de design e efeitos de maquiagem prática, localizado em Englewood (Nova Jersey, EUA).
Em alta na carreira, Marino tem sido lembrado nos últimos anos pela Academia de Hollywood. Ele já concorreu ao Oscar de Melhor Maquiagem e Cabelo por seu trabalho em “Um Príncipe em Nova York 2” (estrelado por Eddie Murphy em múltiplos papéis), em 2022, pelo “Batman” com Robert Pattinson, em 2023 e, neste ano, por “Um Homem Diferente”, com Sebastian Stan.

Foi justamente na última versão cinematográfica do Batman da DC, dirigida por Matt Reeves, que Marino deu continuidade à sua parceria com Colin Farrell (os dois já haviam trabalhado juntos em “Um Conto do Destino”, de 2014). O prosthetic makeup designer ficou responsável por transformar o astro irlandês no sádico Oswald ‘Oz’ Cobb, mais conhecido como Pinguim, vilão de uma Gothan City tomada pelo crime e corrupção.
Para o desafio, Marino utilizou próteses faciais, um bodysuit (traje que cobre o corpo todo), peruca e dentadura. Uma das referências do maquiador para o personagem foi o gângster Fredo Corleone, interpretado por John Cazale em “O Poderoso Chefão” (1972) e sua continuação, de 1974. Atento à caracterização do Pinguim e sua função na história, Marino teve outra grande ideia. “O personagem é um pouco duas caras, é um mentiroso. Então fiz um lado de sua face mais ameaçadora, e o outro um pouco mais normal”, contou em entrevista ao site IndieWire.
Em suas primeiras pesquisas para o projeto, Marino tirou fotos de Farrell com diferentes expressões faciais, das mais bobas às mais extremas, a fim de estudar os traços mais expressivos do ator para confeccionar suas próteses do rosto. Foram aplicadas ainda próteses flexíveis em partes das mãos e orelhas, e até o formato do bico de um pinguim foi sutilmente esculpido em suas narinas. Como tinha poucas cenas, Farrell ainda fez o sacrifício de raspar o cabelão que é sua marca, poupando 40 minutos diários na cadeira de maquiagem.

Tanto esforço por parte de Marino — e de Farrell, que tinha de passar em média três horas na cadeira de maquiagem — valeu a pena. Diretor e produtor executivo do filme, Matt Reeves contou em entrevistas que no primeiro dia de testes de câmera ninguém na equipe reconheceu Farrell no papel. Achavam que era alguém com a mesma aparência do Pinguim.
De coadjuvante em “Batman”, o vilão ganhou a sua própria minissérie, “Pinguim”, dois anos depois. Com oito episódios, a produção da HBO expande não só o universo do longa de 2022, mas a colaboração de Marino com Farrell na construção de uma das caracterizações mais impressionantes dos últimos anos.
Como “Batman” foi filmado em 2020, com pausas durante a pandemia, e a minissérie realizada anos depois, com Farrell em meio a outros projetos, o ator acabou mudando muito fisicamente, obrigando Marino a fazer ajustes na maquiagem protética do personagem.

A escala de filmagem também mudou. O que antes era um filme de três horas de duração deu lugar a uma minissérie totalizando quase 8 horas, demandando mais fisicamente da equipe e, sobretudo, de Farrell. As poucas cenas do ator no longa passaram a 80 a 85 dias de filmagem, com diárias de gravação de 10 a 12 horas… usando maquiagem pesada.
As sessões de aplicação de maquiagem ficaram entre 3 e 5 horas (caso das cenas do episódio 1 em que o Pinguim aparece nu), e o cabelo de Farrell não pôde ser raspado como foi no filme, tendo de ser “domado” com um spray especial e fita, para então receber uma camada de látex simulando a careca. Depois eram aplicadas 8 ou 9 próteses faciais, as sobrancelhas, e finalmente o cabelo, acentuando as entradas nas laterais da cabeça.
Além disso, o cronograma de filmagem teve de ser adaptado para que Farrell não filmasse por mais de três dias seguidos. Marino explicou o porquê: “Você está aplicando um tipo de cola na face [de Farrell] e depois tem de tirar, limpar — embora sejam materiais seguros, é aplicar e remover, sucessivas vezes, logo você precisa dar um descanso para a pele”.
Um dos objetivos de Marino na construção da maquiagem protética do Pinguim foi evitar que partes do rosto de Farrell que expressam emoção, como os olhos e a boca, ficassem travadas. O ator irlandês não deveria ter qualquer limitação pelo uso da maquiagem — e Farrell aparentemente não teve, ao entregar uma das melhores atuações de sua carreira, já reconhecida com o Globo de Ouro de Melhor Ator em Série Limitada (e um Emmy pode vir em 15 de setembro).
Ao falar do papel do Pinguim, o astro irlandês sempre ressalta a importância do trabalho de Marino. Em featurette do canal Max para divulgação da minissérie (confira acima), deu todo o crédito ao seu maquiador/criador: “A questão é que esta série não existiria se não fosse por Mike Marino. O que ele criou através da sua habilidade, sua paixão e sua imaginação retorcida, é icônico demais”.
NOTA DA MIRELLA: O cronograma de filmagem da minissérie “Pinguim”, colocando Colin Farrell para filmar por dois ou três dias seguidos no máximo, mostra o cuidado da produção com o ator. É responsabilidade do(a) líder da equipe de maquiagem informar os produtores dos riscos possíveis e chegar à melhor escala de maquiagem para os atores, garantindo sua segurança, para não danificar sua pele. É bonito também o carinho que Farrell tem demonstrado em entrevistas, valorizando não só o trabalho do maquiador Mike Marino mas de toda a nossa profissão.
CURIOSIDADES:

- A minissérie “Pinguim” é ambientada entre os eventos do filme de 2022 e sua continuação, “Batman – Parte II”, ainda em pré-produção.
- Durante as filmagens é normal um ator suar, e bolhas de ar aparecerem no seu rosto, o que não foi diferente com Farrell na minissérie. Para evitar esse contratempo, aparelhos de ar-condicionado foram ligados em força máxima durante as gravações, para preservar a maquiagem do ator, que entre takes ficava numa tenda ainda mais gelada.
- Marino pensou em tudo, incluindo próteses de pé torto para o Pinguim. E para o episódio de estreia, Farrell ainda teve de usar uma bizarra prótese peniana.
Pesquisa e texto: Eduardo Lucena