O Brasil e a França celebram 200 anos de relações diplomáticas com atividades culturais que irão até dezembro em 15 cidades do nosso país. Por isso, destacamos 10 filmes franceses para ver (ou rever) em diferentes plataformas de streaming.
A Temporada França-Brasil 2025 foi criada pelos presidentes Emmanuel Macron e Luiz Inácio Lula da Silva, após seu encontro em junho de 2023 em Paris, e celebra 2 séculos de boas relações entre os dois países, que demonstram cada vez mais alinhamento em relação a temas globais como diversidade, democracia e clima.
A parceria ocorre no momento em que o Brasil se prepara para a COP30, a conferência de clima da ONU — a ser realizada em Belém (PA), em novembro —, enquanto a França acaba de ser sede do Fórum Mundial dos Oceanos. As exposições “O Poder de Minhas Mãos”, no Sesc Pompeia, e “PLAY – FITE”, no Sesc Pinheiros, deram início às celebrações em São Paulo.
A Temporada França-Brasil contará com mais de 300 eventos em 15 cidades brasileiras, até dezembro, reunindo atividades que vão de exposições, cinema, circo, dança, literatura, música, residência artística a peças teatrais, além de ações para sustentabilidade e direitos humanos.
A programação completa está disponível no site francabrasil2025.com e, para celebrar a cultura francesa, selecionamos 10 grandes filmes de uma das mais antigas (e influentes) cinematografias do mundo — infelizmente, pouco representada nas plataformas de streaming, mesmo as mais segmentadas.
A BELA DA TARDE (1967)
Onde ver: Cindie – Canal de filmes independentes

Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, o longa é um dos trabalhos mais famosos de Luis Buñuel e imortalizou Catherine Deneuve no papel-título. A diva francesa interpreta Séverine, esposa de Pierre (Jean Sorel), com quem mantém um relacionamento frio e distante. Durante suas tardes ociosas, ela passa a trabalhar num elegante bordel, onde mantém clientela com gostos sexuais peculiares.
Escrito por Buñuel em parceria com seu amigo, o roteirista francês Jean-Claude Carrière (de “O Discreto Charme da Burguesia”), “A Bela da Tarde” é um filme emblemático dos anos 1960 — e um dos estudos mais provocadores da sexualidade no cinema.
SEM TETO, SEM LEI (1985)
Onde ver: Oldflix

Depois de viver uma jovem sexualmente precoce em “Aos Nossos Amores” (1983), Sandrine Bonnaire voltou a brilhar, desta vez na pele da andarilha Mona em “Sem Teto, Sem Lei” (também lançado no Brasil como “Os Renegados”).
A trajetória da personagem é narrada por aqueles que a encontraram em suas últimas semanas de vida. Como em “A Grande Testemunha” (1966), do mestre Robert Bresson, revela-se mais sobre quem interage com ela – seja ajudando-a, amando-a ou abusando dela – do que sobre esse espírito livre, mantido um mistério ainda maior ao longo da história.
Agnès Varda (1928-2019) dirigiu o filme após intensa pesquisa com drogados, mendigos e nômades, além de usar atores não-profissionais no elenco. Segundo ela, Mona “não é uma vítima. Não tem uma ideologia, quer apenas as pessoas longe do seu pé”.
OS AMANTES DA PONTE NEUF (1991)
Onde ver: Oldflix

Uma seleção de cinema francês não poderia deixar de fora a estrela Juliette Binoche, que aparece aqui em início de carreira no papel de Michele, jovem que, fugindo de um relacionamento que não deu certo, decide viver nas ruas para pintar o máximo possível antes de perder totalmente a visão.
Na Ponte Neuf, a mais antiga de Paris e tradicional abrigo de muitos sem-teto, ela conhece Alex (Denis Lavant), artista circense com quem vai ver um anárquico conto de amor louco dirigido pelo igualmente anárquico Leos Carax (de “Holy Motors”), que teve como inspiração para o projeto “O Atalante” (1934), um dos maiores clássicos do cinema francês.
A GAROTA SOBRE A PONTE (1999)
Onde ver: Belas Artes à La Carte

Também conhecido como “A Mulher e o Atirador de Facas”, este cult dos anos 1990 revelou o talento de Vanessa Paradis, ex-parceira de Johnny Depp com quem teve Lily-Rose Depp, jovem atriz vista recentemente em “Nosferatu”.
Dirigido por Patrice Leconte (de “O Marido da Cabeleireira”), “Garota sobre a Ponte” é um delicioso romance em preto e branco, tratando do papel da sorte e do azar nas relações amorosas, graças ao encontro entre dois desconhecidos.
Desiludida no amor, a bela Adèle (Paradis, de “Como Arrasar um Coração”) decide se jogar de uma ponte sobre o Rio Sena, em Paris, mas é salva por um estranho, Gabor (Daniel Auteuil, premiado com o César pelo papel), um atirador de facas profissional — cronicamente depressivo. Gabor acolhe Adèle, que passa a trabalhar com ele como alvo nas suas apresentações em circos e cassinos. Tudo isso em um clima onírico, ao som de bela trilha sonora com canções de Angelo Badalamenti, Noro Morales e outros.
ENTRE OS MUROS DA ESCOLA (2008)
Onde ver: Reserva Imovision

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, o filme recria os desafios de um professor de escola pública parisiense que luta para ensinar francês para sua classe multicultural, formada por filhos de imigrantes de diversas etnias que veem a cultura clássica nacional como algo inacessível e distante.
O que poderia parecer mais um banal drama de sala de aula torna-se, nas mãos do diretor Laurent Cantet, um microcosmo explosivo da França atual, seus conflitos de classe ou mesmo confrontos raciais, como os ocorridos na periferia de Paris em 2005.
Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, “Entre os Muros da Escola” tem seu maior trunfo na escalação de François Bégaudeau no papel principal, na verdade uma versão de si mesmo, já que ele trabalhou como professor e é autor do romance homônimo no qual o longa é baseado. Após ler o livro, Cantet decidiu escalá-lo, assim como atores não-profissionais como alunos, estimulando a improvisação e colaboração de todos durante um ano de preparação antes das filmagens.
AMOR (2012)
Onde ver: Reserva Imovision

Duas lendas do cinema francês — Emmanuelle Riva (“Hiroshima Mon Amour“) e Jean-Louis Trintignant (“Z”) — vivem a dilacerante história de um casal idoso que precisa lidar com a dor e a morte no aclamado drama de Michael Haneke (“A Fita Branca”).
Coestrelado por Isabelle Huppert, no papel da filha dos protagonistas, “Amor” conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro, entre outros prêmios.
O PASSADO (2013)
Onde ver: Prime Video

Filmado na França, “O Passado” é o primeiro longa-metragem do aclamado cineasta iraniano Asghar Farhadi — vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por “A Separação”, em 2012 — longe de seu país.
Mais uma vez, o diretor-roteirista explora as nuances de um núcleo familiar desfeito, a partir do divórcio de um iraniano e sua esposa francesa. Ahmad (Ali Mosaffa) sai de Teerã e volta a Paris a pedido da ex-mulher, Marie (Bérénice Bejo, de “O Artista”, premiada no Festival de Cannes), quatro anos depois de terem se separado.
Marie espera formalizar a separação, a fim de casar com o seu namorado Samir (Tahar Rahim, revelado em “O Profeta”), mas antigas feridas do passado tornam a visita de Ahmad cada vez mais desconfortável. A língua pode ser diferente, mas o cinema de Farhadi continua o mesmo, com sua ciranda de sentimentos, o domínio dos diálogos na construção do suspense e os silêncios, repletos de significado.
MONSIEUR & MADAME ADELMAN (2017)
Onde ver: Reserva Imovision

Humor e romance à francesa com o relacionamento de 45 anos entre Sarah (Doria Tillier, indicada ao César pelo papel) e Victor (Nicolas Bedos, também diretor e roteirista).
Na trama, Sarah é abordada por um jornalista que deseja contar a história de seu marido, um renomado escritor. A partir daí, o espectador tem acesso às diferentes fases dessa relação incomum – e o que é melhor, pela perspectiva feminina.
Indicado ao prêmio César de melhor primeiro filme, “Monsieur & Madame Adelman” marca a estreia de Bedos na direção. Bem humorado e original, com uma protagonista empoderada, traz boas reflexões sobre o papel da mulher numa relação pautada não só pelo amor e sexo, mas pelo intelecto.
O AMANTE DUPLO (2017)
Onde ver: Prime Video

Inspirado em livro da norte-americana Joyce Carol Oates (autora de “Blonde”), a história acompanha Chloé (Marine Vacth), que se apaixona por seu psicanalista, Paul (Jérémie Renier, em papel duplo). Após algumas sessões, eles passam a morar juntos e Chloé descobre um segredo: seu marido tem um irmão gêmeo, Louis, também psicanalista. É o início de um perturbador triângulo amoroso envolvendo a protagonista e gêmeos de personalidades radicalmente opostas.
Com seu mergulho ousado na sexualidade feminina, e toques de thriller psicossexual à la Brian De Palma (“Vestida para Matar”, “Femme Fatale”), o filme marca mais uma mudança de registro na carreira de François Ozon, diretor versátil que vai da sátira teatral de “8 Mulheres”(2002) até sua nova versão do clássico “O Estrangeiro”, de Albert Camus, com a qual disputa atualmente o Leão de Ouro no Festival de Veneza.
UMA BELA MANHÃ (2022)
Onde ver: Prime Video

O cinema francês é pródigo em revelar grandes diretoras também roteiristas, como Céline Sciamma (“Tomboy”, “Retrato de uma Jovem em Chamas”), Justine Triet (“Na Cama com Victoria”, “Anatomia de uma Queda”), Julia Ducournau (“Raw”, “Titane”), Coralie Fargeat (“Vingança”, “A Substância”) e Mia Hansen-Løve (“Adeus, Primeiro Amor”, “A Ilha de Bergman”), só para citar as de maior projeção internacional nos últimos anos.
Dona de um cinema muito pessoal, Hansen-Løve é especialista em compor estudos de personagem sob registro realista, e Sandra, interpretada por Léa Seydoux de maneira comovente em “Uma Bela Manhã”, não é exceção.
Sandra trabalha como tradutora em Paris e precisa lidar com os desafios que vão se impondo na vida: como criar a filha sozinha, ajudar o pai ex-professor de filosofia (papel de Pascal Greggory) com problemas neurológicos sérios, e a dor de amar um homem casado, Clément (Melvil Poupaud, de “O Tempo que Resta”), que foi amigo de seu marido falecido e também tem um filho.
Conflitos que podem parecem banais, mas que ganham, pelo olhar da diretora, complexidade e revelam as pequenas alegrias e a luta constante que é viver com tantas responsabilidades e dor no mundo.
Pesquisa e texto: Eduardo Lucena



