Considerado um dos maiores fotógrafos do mundo, Sebastião Salgado morreu no último dia 23 de maio, aos 81 anos. Sua trajetória artística e luta em prol do meio ambiente podem ser conferidas no documentário “O Sal da Terra”, disponível no catálogo do Globoplay.
Vencedor do César de Melhor Documentário e indicado ao Oscar em 2015 (que perdeu para “Citizenfour”), o filme foi dirigido por Wim Wenders em parceria com Juliano Salgado, filho mais velho de Sebastião. Com depoimentos emocionantes dessa lenda da fotografia, “O Sal da Terra” leva o espectador a uma viagem íntima e pessoal pelo trabalho monumental do artista.
Sebastião retratou em sua obra a condição humana, o meio ambiente e as desigualdades sociais. Ativista em prol do meio ambiente, morreu em decorrência da malária, doença que adquiriu numa de expedições nos anos 1990, na Indonésia. “O Sal da Terra” resgata algumas de suas experiências em Serra Pelada, na África e no Nordeste, com destaque para uma de suas maiores obras, “Gênesis”, com a qual percorreu mais de 30 países em 8 anos.
Na época de lançamento do filme, Juliano confidenciou à imprensa que o projeto ajudou a reaproximá-lo do pai, com quem vivia uma relação distante. A fim de manter um distanciamento crítico, o documentarista deixou a Wenders a tarefa de entrevistar o fotógrafo e narrar sua epopeia, desde os anos de formação, no interior de Minas Gerais, até o exílio político em Paris, a partir de 1969.

A nova vida na França levou Salgado a largar a profissão de economista e a se reinventar – com o inestimável apoio da esposa Lélia – como um dos maiores fotojornalistas do mundo. O resto é história: 50 anos de carreira dedicados a capturar a vida humana sob condições extremas, em diferentes continentes.
Com tanta história para contar, “O Sal da Terra”, que também venceu o prêmio do júri da seção Um Certo Olhar no Festival de Cannes, em 2014, consegue a proeza de dar uma geral na obra de seu biografado (principalmente para quem não a conhece), e ao mesmo tempo lançar uma luz sobre o indivíduo por trás do artista, sem apelar para o excesso de depoimentos de terceiros.
Projetos que consumiram anos – como “Trabalhadores”, “Serra Pelada”, “Êxodos” ou “Gênesis” – ganham vida com a projeção de imagens na tela. Ampliadas, as fotografias impressionam. Provocam emoção. E evocam uma série de reminiscências, como anedotas e histórias comoventes vividas por Sebastião ao lado de seus fotografados.
A fisionomia serena e os olhos brilhantes do fotógrafo, refletidos no projetor enquanto vê seu trabalho, dizem tudo. Expressam a relação íntima que mantinha com seus objetos de estudo, seu respeito à cultura do “outro” e sua incansável busca pela dignidade humana, mesmo nas piores circunstâncias.
Com “O Sal da Terra”, compartilhamos um pouco de seu humanismo.
Pesquisa e texto: Eduardo Lucena