Imortalizados por sua beleza e talento, Robert Redford (1936-2025) e Claudia Cardinale (1938-2025) faleceram em 16 e 23 de setembro, respectivamente. Duas estrelas que marcaram época em clássicos do cinema sob a direção de grandes diretores.
Um dos maiores astros de Hollywood entre as décadas de 1960 e 1990, Redford faleceu durante o sono, em sua casa em Utah, nos Estados Unidos. Ele tinha 89 anos.
Nascido em 18/8/1936, em Santa Monica, na Califórnia, Redford terminou o secundário em 1955 e, após a morte de sua mãe, conseguiu uma bolsa na Universidade do Colorado. Mas não ficou muito tempo: insatisfeito, foi para a Europa estudar pintura e, durante vários meses, perambulou de um país para outro, até decidir voltar para os EUA.
Em 1958, conheceu Lola Van Wagenen, moça de família mórmon com quem se casou, e logo depois se matriculou no Pratt Institute, no Brooklyn (Nova York), para estudar cenografia. Até que um dia foi chamado para interpretar um poema, e sua vida nunca mais foi a mesma.
Estreou na Broadway em janeiro de 1959, na pele de um jogador de beisebol na peça “Tall Story” e, nos anos seguintes, ao mesmo tempo em que trabalhava em várias montagens teatrais, ia ficando conhecido pelo público na TV norte-americana, graças a suas participações em seriados como “Além da Imaginação” e “Dr. Kildare”.
Depois de estrear no cinema com “Obsessão de Matar” (1962), continuou a trabalhar na TV até chamar a atenção com “Caçada Humana” (1966), “Esta Mulher é Proibida” (1966) e “Descalços no Parque” (1967), no qual faz um adorável par com Jane Fonda.


O filme seguinte, o divertido faroeste “Butch Cassidy” (1969), foi um estrondoso sucesso e marcou sua primeira parceria com o eterno amigo Paul Newman, com quem viria a contracenar em outro hit, “Golpe de Mestre” (1973), também sob a direção de George Roy Hill.
O clássico serviu de modelo para inúmeras tramas de golpe e foi o grande vencedor do Oscar em 1974, levando sete estatuetas, incluindo melhor filme, direção e roteiro. Pelo papel do golpista Johnny Hooker, Redford recebeu sua primeira (e única) indicação ao Oscar de melhor ator, mas perdeu o prêmio para Jack Lemmon (por “Sonhos do Passado”).
Redford brilhou nos anos 1970, aparecendo em filmes que refletiam sua visão de mundo (e desencanto), como o western revisionista “Mais Forte que a Vingança” (1972), o drama político “O Candidato” (1972), o romance “Nosso Amor de Ontem” (1973) — ao lado de Barbra Streisand —, o thriller “Três Dias de Condor” (1975) e, especialmente, “Todos os Homens do Presidente” (1976). Neste último, o ator interpretou o jornalista Bob Woodward que, ao lado de Carl Bernstein, investigou o escândalo Watergate que levou à renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974.
Em 1980, fez sua estreia atrás das câmeras com o sensível “Gente como a Gente”, que lhe valeu seu primeiro Oscar, como melhor diretor. O drama familiar levou ainda as estatuetas de melhor filme, ator coadjuvante (Timothy Hutton) e roteiro adaptado.
Os anos 1980 foram marcados pelo fim de seu casamento de 28 anos com Lola, pela direção de seu segundo filme, “Rebelião em Milagro” (1988), com Sonia Braga — com quem viveu um relacionamento —, e pela sua crescente participação em movimentos de defesa do meio ambiente, muito antes do assunto ganhar a urgência de hoje.
Em 1981, fundou o Instituto Sundance e, poucos anos depois, idealizou o Festival de Cinema de Sundance, realizado anualmente em Park City e Salt Lake City, no estado de Utah, onde vivia recluso em seu rancho.
Nos anos 1990, atuou em poucos filmes (“Quebra de Sigilo”, “Proposta Indecente”, Íntimo & Pessoal”) e preferiu se dedicar à direção, demonstrando seu olhar sensível sobre ética e comunhão com a natureza em “Nada é para Sempre” (1992), “Quiz Show – A Verdade dos Bastidores” (1994) — sua segunda indicação ao Oscar de melhor direção — e “O Encantador de Cavalos” (1998), que revelou Scarlett Johansson ainda menina.
Ele também levou um Oscar honorário em 2002, por ser uma “inspiração para cineastas de todo o mundo”. Nos anos 2010, brilhou em “Até o Fim” (2013), sozinho em cena durante 106 minutos, no papel de um velejador à deriva em alto mar, além de entrar para o Universo Marvel, como o vilão de “Capitão América: O Soldado Invernal” (2014), e se apaixonar nas telas por Jane Fonda, mais uma vez, em “Nossas Noites” (2017), romance disponível na Netflix.
Ator, diretor, produtor, ativista ambiental, fundador de instituto de cinema. O legado de Robert Redford é imensurável: seu humanismo, dedicação às artes e engajamento social transcendem a figura do astro de cinema e vão fazer muita falta.
CLAUDIA CARDINALE

A eterna musa do cinema italiano morreu aos 87 anos, em sua casa em Nemours, na França. A causa não foi divulgada.
Descoberta pelo produtor Franco Cristaldi aos 17 anos, Cardinale venceu um concurso de “a mais bela italiana de Túnis”, capital da Tunísia, onde nasceu em 15/4/1938. Sua beleza morena e a voz rouca caiam feito uma luva para personagens misteriosas e sensuais que a transformariam em ícone e símbolo de beleza nos anos 1960.
Pelas mãos de Cristaldi — com quem viveu um atribulado romance —, teve sua primeira grande chance na comédia “Os Eternos Desconhecidos” (1958), ao lado de Marcello Mastroianni, Vittorio Gassman e Totò. Sua carreira estourou nos anos 1960, com “A Moça com a Valise” (1961), de Valério Zurlini, “Oito e Meio” (1963), de Federico Fellini, e três clássicos de Luchino Visconti: “Rocco e Seus Irmãos” (1960), “O Leopardo” (1963) e “Vagas Estrelas da Ursa” (1965).
Hollywood logo descobriu a atriz, que faria sua estreia numa produção norte-americana com a comédia “A Pantera Cor-de-Rosa” (1963), mas teve sua voz dublada por outra atriz em inglês. Ainda nos anos 1960, estrelou dois dos maiores faroestes de todos os tempos, atuando em língua inglesa: “Os Profissionais” (1966), de Richard Brooks, e “Era uma Vez no Oeste” (1968), de Sergio Leone.

Voltou a trabalhar com Visconti em “Violência e Paixão” (1974), atuou na minissérie “Jesus de Nazaré” (1977), de Franco Zeffirelli, e participou da caótica produção de “Fitzcarraldo” (1982), de Werner Herzog, filmada em Manaus.
Radicada na França durante boa parte da vida, Cardinale falava cinco línguas (francês, italiano, inglês, espanhol e árabe) e desde 1999 era Embaixadora da Boa Vontade da UNESCO em defesa dos direitos das mulheres. Em 2002, foi homenageada pelo Festival de Berlim com um Urso de Ouro Honorário, e pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, com o Prêmio Leon Cakoff, em 2012.
Com mais de 100 créditos no currículo, entre produções para cinema e televisão, a atriz seguiu trabalhando ativamente até o início desta década.

Pesquisa e texto: Eduardo Lucena



