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A mágica das perucas e maquiagem que tornaram Sebastian Stan em Donald Trump

A mágica das perucas e maquiagem que tornaram Sebastian Stan em Donald Trump

Uma equipe brilhante de hairstylists e maquiadores recriou a “cabeleira” do polêmico presidente norte-americano e, é claro, sua famosa pele bronzeada, em “O Aprendiz”, cinebiografia do iraniano Ali Abbasi indicada ao Oscar 2025 de Melhor Ator (Sebastian Stan) e Melhor Ator Coadjuvante (Jeremy Strong).

Disponível no Prime Video da Amazon, “O Aprendiz” é um retrato sem concessões dos anos de formação (e ascensão) de Trump no mundo dos negócios, entre o final dos anos 1970 e o início da década de 1980.

Na última temporada de premiações, dominada por “A Substância” na categoria de Melhor Maquiagem e Cabelo, um dos mais interessantes trabalhos na área não envolveu monstros, nem seres de outro mundo. Em “O Aprendiz”, a equipe formada por Michelle Côté (chefe do departamento de cabelo — hair department head), Colin Penman (chefe do departamento de maquiagem — makeup department head), Sean Sansom (designer de efeitos de maquiagem) e Brandi Boulet (makeup artist) teve como maior desafio fazer o público acreditar em Stan na pele de Donald Trump. E, principalmente, acreditar no cabelo do ator no filme. Sem uma peruca convincente, não há Trump!

Makeup artist especializada em maquiagem protética, Brandi Boulet (@brandi.boulet) passou meses estudando a evolução do cabelo, rosto e corpo de Trump ao longo de diferentes períodos. “… mudamos a cor de suas sobrancelhas, a cor de sua peruca, e então colocamos uma prótese careca [em Stan] para o espectador ver através da peruca, à medida em que seu cabelo ia ficando mais fino”, confirmou Boulet em entrevista.

Segundo o livro “Fogo e Fúria: por Dentro da Casa Branca de Trump”, de Michael Wolff, a cabeleira do mandatário norte-americano é consequência de uma suposta redução de couro cabeludo que ele teria tentado corrigir na década de 1980 — procedimento retratado em “O Aprendiz”.

Michelle Côté ajeitando uma peruca em Sebastian Stan. Para retratar o período da calvície de Trump, o cabelo do ator foi coberto por uma prótese de falsa careca que por sua vez foi coberta por uma peruca.

Cabeleireira-chefe da produção, Michelle Côté (@michcote) teve à disposição amplo arquivo de imagens para desenvolver a evolução do cabelo de Trump ao longo dos anos. Para transpor dados reais para a ficção — o que vemos na tela —, ela trabalhou com três perucas que representaram diferentes estágios de Trump no filme: uma para o jovem Trump, outra para a cirurgia de calvície, e uma para as cenas pós-cirurgia.

Já Brandi Boulet e Sean Sansom (@sansom.sean) usaram maquiagem protética para marcar as diferentes fases. “Em seu estágio mais jovem, Trump era mais loiro e sua pele mais pálida”, afirmou Boulet. Ela usou ainda peças de elevação protética para puxar as bochechas e olhos de Stan para cima, apertando seu rosto para ele parecer mais jovem (o ator tem hoje 42 anos). Na parte final, que termina em 1986, com Trump com quase 40 anos, uma barriga falsa foi usada para acentuar sua decadência física, além do seu tom de pele laranja característico.

Brandi Boulet e Sean Sansom aplicando uma prótese em Sebastian Stan
Os dois maquiadores retocando a maquiagem – e pele mais bronzeada do personagem

No início das filmagens, Côté e sua equipe precisavam de 2 horas e meia por dia para preparar Stan, mas ao final das gravações o processo diminuiu para 75 minutos. No filme, Trump recorre a um transplante capilar, e Sansom revelou que eles usaram “o topo de uma cabeça falsa com um couro cabeludo. Michelle [Côté] tinha uma peruca, e uma área foi cortada onde o couro cabeludo seria removido. O cabelo foi perfurado um fio de cada vez”.

Ator de origem romena, Stan ficou conhecido pelo papel de Bucky Barnes, o Soldado Invernal dos filmes da Marvel, e teve de passar por uma verdadeira transformação, que incluiu uma dieta hipercalórica regada a ramen e muito molho shoyo, para deixar seu rosto com aspecto mais inchado. De maneira minuciosa, ele vai incorporando na tela trejeitos de Trump (como o “biquinho” ao falar), quando o inicialmente inseguro empresário se torna cada vez mais cínico e egocêntrico.

Sebastian Stan e o famoso “biquinho” de Trump

Trump surge na trama como um jovem incorporador imobiliário (e herdeiro) de 27 anos, na Nova York de 1973, quando encontra num clube de grã-finos aquele que se tornaria seu mentor — o advogado Roy Cohn (1927-1986), papel de Jeremy Strong (da série “Succession”).

Cohn entrou para a história da política norte-americana nos anos 1950, quando atuou como conselheiro-chefe do senador Joseph McCarthy em sua infame “caça aos comunistas”. Ex-promotor conhecido por suas táticas agressivas e falta de escrúpulos, Cohn não só introduziu Trump à alta sociedade e a alguns de seus contatos, mas ajudou a moldar Trump e alguns de seus bordões, como “clamar vitória, nunca admitir a derrota”, “ataque, ataque, ataque”, “nunca se desculpe, ataque sempre”.

Para o look de Strong no papel de Cohn, coube a Colin Penman (@colin_penman) caprichar na tonalidade de pele mais escura do personagem, já que o advogado era viciado em bronzeamento artificial. E (ATENÇÃO: SPOILER), outro desafio do chefe de maquiagem era trabalhar a pele de Strong à medida em que seu personagem adoecia em decorrência da AIDS.

Jeremy Strong e o verdadeiro Roy Cohn

Na reta final, o personagem vai ficando mais e mais pálido, passando por tons de amarelo, com as maçãs do rosto ficando mais fundas. Penman fez dupla com Sansom para preparar a maquiagem de Strong que, menos exaustiva que a de Stan, levava trinta minutos por dia para aplicar.

Da dinâmica entre mestre e aprendiz do mal entre Cohn e Trump, o filme passa a abordar o relacionamento do empresário com sua primeira esposa, Ivana (Maria Bakalova, revelada na comédia “Borat 2”). E uma inversão de poder toma forma, com o aprendiz do título tomando as rédeas de seu destino, tornando-se o Trump implacável que conhecemos na mídia, ao mesmo tempo em que se afasta de seu mentor que sucumbe à AIDS, doença que provocava extrema celeuma e repulsa no início da década de 1980.

NOTA DA MIRELLA: Graças a um trabalho incrível de pesquisa da equipe de cabelo e maquiagem, fora a execução impecável, acreditamos em cada minuto de Sebastian Stan como Donald Trump. E não há nada mais gratificante para nós do meio que um diretor que reconhece a importância do departamento de cabelo e maquiagem, como é o caso de Ali Abbasi. Nas palavras dele:

“Trump é mais vaidoso que as outras pessoas. Ele é como Sansão: todo o seu poder está no seu cabelo… através dele vemos o desenvolvimento do personagem. Nos anos 70, o cabelo é mais volumoso e rebelde, e então nos anos 80 é mais liso e fixado com gel”. Ali Abbasi

E o que o próprio Trump achou do filme que fez sua estreia no Festival de Cannes em maio do ano passado? Ele chamou “O Aprendiz” de “falso e sem classe” numa postagem em rede social, concluindo que o mesmo é “pobre, difamatório e um ataque politicamente nojento” a sua pessoa.

Bem, Roger Stone, estrategista político e aliado de longa data do presidente americano — ou seja, alguém que conheceu Trump de perto e conhecia bastidores de sua vida —, gostou do filme, que detalha com humor cínico a história de um monstro que ajudou a criar outro monstro, numa escalada de poder sem precedentes que culmina, como veríamos décadas depois, com o retorno de Trump à presidência dos EUA.

Pesquisa e texto: Eduardo Lucena


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