Figura marcante de “A Hora do Mal” (2025), a personagem interpretada por Amy Madigan rouba a cena e já virou meme no TikTok e Instagram, além de inspirar diversas fantasias e looks de Halloween. O longa de suspense/terror está disponível na HBO Max.
Madigan interpreta a misteriosa tia de Alex, único aluno de uma classe da terceira série que não desapareceu às 2h17 da madrugada na fictícia cidade de Maybrook, na Pensilvânia (EUA), quando 17 outras crianças deixaram suas casas e nunca mais foram encontradas. Após o sumiço, Justine Gandy (papel de Julie Garner, da série “Ozark”), professora da turma, passa a ser hostilizada pelos pais e vizinhos, que indagam por que apenas os alunos dela fugiram.
Revelado no gênero terror com “Noites Brutais” (2022), Zach Cregger dirigiu e escreveu “A Hora do Mal”, explorando a histeria persecutória, quase linchamento moral, que a comunidade da história faz, sem provas, em sua busca por um(a) culpado(a).
Como nos melhores exemplares do cinema de terror moderno, a violência vai escalonando à medida em que aumenta a histeria coletiva, e o filme adentra o campo do sobrenatural. Até que, no meio de todo o caos e violência, uma personagem secundária ganha vida, graças ao talento de sua intérprete, Madigan – e ao incrível trabalho do departamento de cabelo e maquiagem do filme.
Sem CGI, só usando efeitos práticos, lentes de contato, maquiagem, perucas e próteses, em sessões de maquiagem que chegavam a 3 horas de duração. Um feito extraordinário da equipe liderada por Leo Satkovich @le0themua (chefe do departamento de maquiagem – makeup department head) e por Jason Collins @jcollinsmakeup @autonomousfx2005 (designer de efeitos especiais de maquiagem – special makeup effects designer), com a contribuição indispensável de Melizah Wheat @melizahwheat (chefe do departamento de cabelo – hair department head). Sem falar da figurinista Trish Summerville @mztsummerville, fundamental na criação dos looks que ajudaram a tornar a personagem original e única.


Para acentuar a deterioração física de Gladys ao longo da história, os maquiadores adicionaram mais marcas de idade a Madigan, alteraram seu tom de pele e usaram uma touca de látex para deixá-la careca em determinadas sequências. Nas cenas em público, contudo, a personagem aparecia mais forte e rejuvenescida, quase sempre de peruca (a produção usou 7 diferentes!), numa tentativa de esconder sua decadência.
A pesquisa conceitual para a caracterização incluiu trabalhos das fotógrafas Diane Arbus e Cindy Sherman e, no cinema, a personagem de Bette Davis em “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” (1962) e a de Mink Stole em “Pink Flamingos” (1972), misturando estilos e períodos distintos.
Cada detalhe foi pensado pelo time de maquiagem para acentuar a personalidade excêntrica de Gladys: o forte batom vermelho que ela usa todo borrado, por exemplo, demonstra sua preocupação com a aparência, mesmo sem saber aplicá-lo direito.
Collins – que já havia trabalhado na maquiagem de “O Aprendiz” – e o time de maquiagem protética empregaram ainda próteses no nariz de Madigan e alongaram suas orelhas. Lentes de contato especiais foram criadas por Cristina Patterson @eyeinkfx – uma especialista em lentes para cinema e TV – para fazer sua íris menor, tornando seus olhos mais ameaçadores. E, para completar a transformação, Aaron Globerman @aaron_globerman produziu próteses de dentes infantis para tornar a personagem ainda mais bizarra.



Com sua peruca vermelha e maquiagem pesada que lembra Ronald McDonald e Bozo, a Tia Gladys transcendeu as telas e ganhou status de novo ícone do cinema de horror.
Drag queens em todo o mundo tem incorporado Gladys, que já virou uma das fantasias mais comentadas nas festas de Halloween. Além de ressuscitar a carreira da veterana Amy Madigan, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por “Duas Vezes na Vida”, em 1986.
Aos 74 anos, a atriz pode voltar ao Oscar na mesma categoria que disputou há quase trinta anos, e a Tia Gladys, segundo notícias na imprensa, pode voltar às telas numa história solo explorando suas origens.

Pesquisa e texto: Eduardo Lucena



