Indicado ao Bafta de Melhor Filme em Língua Estrangeira, o drama romântico de Céline Sciamma encantou público e crítica no Festival de Cannes, de onde saiu em 2019 com o prêmio de melhor roteiro (assinado pela cineasta) e a Queer Palm, dedicada a produções de temática LGBTQ.
Depois de realizar “Lírios d’água” (2007), “Tomboy” (2011), “Garotas” (2014) e o roteiro da animação “Minha Vida de Abobrinha” (2018) — todos circulando sobre temas como construção da identidade e amadurecimento –, Sciamma tornou-se a primeira mulher agraciada com a Queer Palm, criada em 2010.
No espírito da Temporada da França no Brasil, com dezenas de eventos no país até dezembro, vale a pena ver essa que é uma das melhores histórias de amor do cinema recente, disponível no Prime Video.

Ambientado no século 18, “Retrato de uma Jovem em Chamas” começa com a chegada de Marianne (Noémie Merlant) numa ilha remota, contratada por uma condessa (Valeria Golino) para pintar o retrato de sua filha, a misteriosa Héloise (Adèle Haenel). Só que a personagem-título não pode saber, pois o quadro será enviado a seu pretendente em Milão. Quanto mais bela Héloise parecer na pintura, maior a chance de ser escolhida por ele.
Marianne precisa então se passar por uma aia da nobre e, nos dias seguintes, memorizar seus traços, detalhes de seu rosto, e assim completar em segredo a obra fundamental para o arranjo familiar. O filme navega pelas vidas interiores dessas duas mulheres, privadas de suas aspirações e desejos por uma sociedade patriarcal, com sua divisão de classes e rígidas regras de conduta.
Apoiada na belíssima fotografia de Claire Mathon, em que cada frame remete a uma pintura, Sciamma conduz a narrativa de forma contemplativa, seguindo o ritmo da aproximação hesitante entre a artista e seu objeto de estudo.


É uma história de amor construída sutilmente em cada gesto e olhar. É a partir da percepção que se tem da outra, da imagem que Marianne precisa memorizar (até se apaixonar), que se pinta este delicado “Retrato de uma Jovem em Chamas”.
E VEJA TAMBÉM, DA MESMA DIRETORA:
TOMBOY
Vencedor do prêmio Teddy Bear no Festival de Berlim, o longa aborda de maneira singela o surgimento do transgênero sexual na infância. Com sua aparência andrógina, Laure (Zoé Héran), de 10 anos, é confundida com um garoto e, na inocência de agradar a nova vizinhança, assume a identidade de Mickäel.
A partir de uma brincadeira inocente, a trama do filme francês trata com sensibilidade (e sem julgamentos) do Transtorno de Identidade de Gênero.

Onde ver: Globoplay – Telecine
Pesquisa e texto: Eduardo Lucena



