A 78ª edição do Festival de Cannes chegou ao fim no último sábado (24/5), com a cerimônia de premiação. “O Agente Secreto” conquistou os prêmios de Melhor Direção, para Kleber Mendonça Filho, e Melhor Ator, para Wagner Moura, que se tornou o primeiro brasileiro a vencer na categoria.
Dirigido pelo iraniano Jafar Panahi, “It Was Just an Accident” (ainda sem título no Brasil), recebeu a Palma de Ouro, prêmio máximo do evento. Em 2010, Panahi foi condenado a seis anos de prisão e proibido de filmar ou sair do Irã por 20 anos — sentença atualmente suspensa — sob a acusação de fazer propaganda contra o governo. O Irã não ganhava a Palma de Ouro há 28 anos, desde “O Gosto de Cereja” (1997), do grande poeta e cineasta Abbas Kiarostami (1940-2016).

O cinema brasileiro segue em alta neste ano. Depois de “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, conquistar o Urso de Prata no Festival de Berlim, em fevereiro, veio o primeiro Oscar de melhor filme internacional para o país, em março, com o fenômeno “Ainda Estou Aqui”, sucesso de público e crítica dirigido por Walter Salles.
“O Agente Secreto” recebeu ótimas críticas e era cotado para categorias importantes, mas a vitória dupla — melhor direção e melhor ator — surpreendeu, já que o festival tem regras rígidas proibindo o acúmulo de prêmios. O longa que ganha a Palma, por exemplo, não pode levar outra categoria.
Moura entrou para a história como o primeiro ator brasileiro premiado no festival francês, que já reconheceu antes duas de nossas atrizes: Fernanda Torres, por “Eu Sei que Vou te Amar”, em 1986, e Sandra Corveloni, por sua atuação em “Linha de Passe”, em 2008.
Mendonça Filho, que já havia vencido o prêmio do júri em Cannes com “Bacurau”, em 2019, repetiu o feito de Glauber Rocha (1939-1981), premiado como melhor diretor por “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, em 1969.

Thriller político ambientado durante a ditadura militar, em Recife no ano de 1977, “O Agente Secreto” já tinha rendido ao cineasta pernambucano dois reconhecimentos: o Prêmio da Crítica como melhor filme da competição, concedido pela Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci), e o Prix de Cinémas d’Art et Essai, entregue pelos exibidores independentes da AFCAE, Associação Francesa de Cinemas de Arte e Ensaio.
Outro filme bastante elogiado, “Sentimental Value” (ainda sem título em português), novo trabalho de Joachim Trier (diretor de “A Pior Pessoa do Mundo”), ficou com o Grand Prix, espécie de segundo lugar do Festival de Cannes. O drama norueguês foi ovacionado por 19 minutos e já está sendo cotado para indicações ao Oscar 2026.
A edição deste ano homenageou dois ícones do cinema norte-americano. Aos 81 anos, Robert De Niro recebeu das mãos de Leonardo DiCaprio uma Palma de Ouro honorária, logo na abertura do festival, que concedeu ainda um prêmio honorário surpresa para Denzel Washington, 70. O ator apresentou, fora de competição, “Highest 2 Lowest”, sua quinta colaboração com o amigo Spike Lee, que faz uma refilmagem de “Céu e Inferno” (1963), clássico japonês do mestre Akira Kurosawa.
A seleção da competição oficial foi muito elogiada pela crítica, assim como as escolhas do júri presidido pela atriz francesa Juliette Binoche. O festival mais importante do mundo tem antecipado vários candidatos e possíveis ganhadores do Oscar — caso de “Anora”. Após levar a Palma de Ouro no ano passado, o filme de Sean Baker acabou virando o grande vencedor da Academia de Hollywood em 2025. Agora é torcer para que “O Agente Secreto” siga os passos de “Ainda Estou Aqui”, divulgando o cinema brasileiro internacionalmente.

PALMA DE OURO
“It was Just An Accident”, de Jafar Panahi (Israel)
GRAND PRIX
“Sentimental Value”, de Joachim Trier (Noruega)

PRÊMIO DO JURI (empate)
“Sirât”, de Oliver Laxe (Espanha/França)
“Sound of Falling”, de Mascha Schilinski (Alemanha)
MELHOR DIREÇÃO
Kleber Mendonça Filho, de “O Agente Secreto” (Brasil)
MELHOR ATRIZ
Nadia Melliti, de “La Petite Dernière”
MELHOR ATOR
Wagner Moura, de “O Agente Secreto” (Brasil)
MELHOR ROTEIRO
Jean-Pierre e Luc Dardenne, por “Jeunes Mères”
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI
“Resurrection”, de Bi Gan (China)
MAIS PREMIAÇÕES (clique aqui e confira a lista completa)
CAMÉRA D’OR (melhor filme de estreante)
“The President’s Cake”, de Hasan Hadi (Iraque), com menção honrosa para “My Father Shadow”
PRIX UN CERTAIN REGARD
“A Misteriosa Mirada do Flamingo”, de Diego Céspedes
PALMA DE CURTA-METRAGEM
“I’m Glad You’re Dead Now”, de Tawfeek Barhom (Palestina), com menção especial para “Ali”
PRÊMIO DA CRÍTICA (FIPRESCI)
“O Agente Secreto”

DOCUMENTÁRIO
“Imago”, de Déni Oumar Pitsaev
QUEER PALM (Láurea LGBTQIAPN+)
“La Petite Dernière”, de Hafsia Herzi
PRÊMIO DO JÚRI ECUMÊNICO
“Jeunes Mères”
PRÊMIO DE JÚRI POPULAR
“The President’s Cake”
Pesquisa e texto: Eduardo Lucena