Destaques e novidades da área no mercado audiovisual, além de curiosidades e notícias sobre cinema e TV

Resenha da semana: “Rosa e Momo” (La Vita Davanti a Sé)

Resenha da semana: “Rosa e Momo” (La Vita Davanti a Sé)
Parte 1
Parte 2
Parte 3

Confira nossa opinião do filme sob a ótica do departamento de maquiagem e caracterização.

O filme “Rosa e Momo” concorre ao Oscar de melhor canção original (música maravilhosa de Laura Pausini, diga-se de passagem), mas já levou 11 prêmios e teve mais de 30 indicações. A história é baseada no livro de Romain Gary. Está disponível na Netflix.

Tomei a decisão de assistir ao filme sem muitas pretensões. O pôster já diz muitas coisas: Uma amizade improvável entre uma idosa e um menino, e imaginei que tratava-se “somente” (?) disso.

Mas vamos lá… quem me acompanha aqui sabe que defendo a ideia de fazer as resenhas enaltecendo a obra e não pra “meter o pau”. Críticos com esse viés, existem aos montes, e eu nem tenho repertório suficiente para isso (para julgar, no mínimo, o crítico deve ter um conhecimento excepcional), acho chato e principalmente: Trabalho em produções e sei o quanto é árduo materializar uma obra. Um filme é uma arte contínua e orgânica. Uma cena pode ser uma obra prima e outra ter algumas falhas, então qualquer crítica generalista pode ser vaga. Tem aquela premissa do “A beleza está nos olhos de quem vê…”. Sem contar o nosso humor no dia em que assistimos ao filme. (Eu mesma já odiei um filme e amei num outro momento, por conta do meu “mood” .

Confira o trailer oficial legendado.

Bom, vamos à história do filme. Rosa é uma sobrevivente do holocausto e ex-prostituta, que se aposentou e passou a cuidar de crianças de outras prostitutas para se manter.

Momo é Moahamed, um menino de 12 anos, senegalês que perdeu a mãe e vive sob a tutela do Dr. Cohen, amigo de Rosa. Ele é comandado por um traficante a vender drogas e também comete alguns furtos. Por coincidência, ele rouba Rosa e é descoberto: Tem que pedir desculpas para a amiga do seu tutor, que, de quebra, pede às Rosa que fique por um tempo com ele.

Eu adoro a forma como eles se peitam, a atuação é muito boa. Chega a ter uma pitada de comédia (apesar da triste realidade de ambos). O fato de um não dever nada para o outro, mas terem que se aturar faz com que o espectador acredite que seria impossível eles passarem a ter uma amizade. É aí que a mágica acontece. Não é piegas, não é clichê. Em uma entrevista que assisti com Sofia Loren o entrevistador fala:

“THERE IS A PROCESS OF BOTH NOT WANTING TO BE TOGETHER, NEVER COMES A BIG MOMENT WHERE THEY HAVE A HOLLYWOOD STYLE OF RECONCILIATION, AND TURNOVER, ITS SUCH A SLOW GRADUAL THING.”

Ou seja, a relação deles não tem aquele ponto de virada, aquela coisa que, do nada, eles passam a se amar. Não, é algo sutil, real. E por ser real, faz a gente ir entendendo o lado de cada um e se identificando pela história. Cria empatia. É poético. É belo.

O RETORNO DE SOPHIA ÀS TELAS, A DIREÇÃO DO FILHO E A RELAÇÃO COM IBRAHUMA GUEYE

Sofia Loren estava há 10 anos sem fazer um filme. E confessa que lutou por esse papel por acreditar que ele havia sido feito pra ela. O diretor, Eduardo Ponti, é seu filho. Tem várias entrevistas com eles no youtube e é uma graça vê-los dividindo com o público como funciona a relação deles no set. Ela garante que ele manda em tudo e ela só obedece. E em todas as entrevistas é possível ver o brilho no olhar dos dois de admiração um pelo outro. Ela tem o maior orgulho do filho e, sendo um ícone do cinema, é legal ver a humildade dela e vâ-la ali cumprindo também o  papel de mãe orgulhosa. É fofo!

Uma entrevista peculiar me chamou a atenção, pois é o filho que a entrevista e eles falam sobre a infância pobre da mãe. Não era só uma entrevista, parecia uma conversa de família, onde ele levanta questões sobre suas origens e a história da mãe, avó, etc. É um diálogo muito rico sobre família, gerações, ancestralidade.

E nesse momento que ela divide conosco o fato de se identificar muito com as histórias dos personagens, porque, de fato, ela viveu a pobreza, foi morar sozinha com 15 anos, e ela trouxe essa emoção e empatia com a história de Momo.

Momo não é ator até então, imagina a honra de estrear atuando com ninguém menos que Sofia Loren??? Eu fico me perguntando, será que ele tem noção do tamanho disso? E ela ainda fala que o admira como ator. Isso ficará na história dele para sempre, ela fala que, se ele se dedicar, vai longe. Que registro ele tem pra vida, não?

Para quebrar o gelo, a produção teve a ideia de coloca-los hospedados na mesma casa, acordarem e dormirem juntos para irem se habituando um com o outro. Então, a amizade foi realmente sendo construída aos poucos. Eu imagino que isso deve ter contribuído muito para passar essa realidade para nós, que estamos assistindo.

MAQUIAGEM E CARACTERIZAÇÃO

Como vocês sabem o intuito aqui é discutirmos sobre a maquiagem e caracterização dos filmes. Eu sempre estudo muito, pesquiso, busco referencias, para trazer informações e curiosidades, mas confesso que, para este filme, foi bem difícil. Pouco se fala sobre o processo. Então, eu fui “pescar” informações e estou trazendo muito mais percepções e indagações do que curiosidades sobre os bastidores. Até tive que recorrer à ajuda da minha tia que mora na Itália e está me dando aula de italiano (obrigada TiLu!). Se alguém aí souber de mais detalhes do que eu, peço que divida com a gente! Faça um comentário ou mande um email para maquiagemnocinema@gmail.com

O que chamou minha atenção foram os olhos delineados e os cílios postiços que ela usa na vida real. Sim, a aparência desses detalhes é um tanto estranha, mas eu consigo entender (talvez a importância da história de Sophia me faça compreender, sem preconceitos como maquiadora). É exagerado, eu sei. Mas, pensem… ela tem 86 anos. E foi um ícone de beleza e moda. Eu acredito que seja um símbolo de sua vaidade, que a maquiadora respeita e que, pelo menos nesse filme, não vejo problema nenhum. Eu acho até que combinou com a personagem. Nós, caracterizadores, sabemos que nada é por acaso. Imagino que isso tenha sido muito bem discutido (afinal, estamos falando de uma maquiadora com uma carreira brilhante – Frederique Foglia – que foi “body make-up coordinator) em Apocalypto e assinou a maquiagem em Lucy).

(Um parênteses aqui:)

(Eu, como assistente fiz uma campanha inspirada em Apocalypto (deixo o link na publicação em nosso portal: maquiagemnocinema.com) onde a Carla Carrasco foi a responsável pela maquiageme a Gi Moretto foi a figurinista. Tivemos apenas um recorte de como é caracterizar aborígenes e já foi tão complexo! Imagina fazer esse filme, eu nem consigo imaginar!!!)

Voltando…

Eu adoro a cena do terraço, onde ela está em transe e a chuva cai sob seus olhos. Ela não pisca (depois descobri que foi um pedido do diretor/filho que ela achou que não conseguiria atender), e ficou lindo. Ela mesma fala sobre ter considerado esta uma das cenas mais fortes.

Outros elementos da maquiagem que me chamaram a atenção são:

– A tatuagem dela na pele flácida e enrugada, ficou perfeita! Sabemos que isso é um trabalho de makeup fx e eu tiro o chapéu. E fico feliz com a importância da cena, em um close fica estabelecido que ela foi uma vítima do holocausto.  

– O machucado e suor de Momo.

– A peruca dela, despenteada com nuances grisalhos, combina muito com a personagem.

CURIOSIDADES SOBRE SOPHIA

Ela conta que ralou muito como figurante até começar a ganhar papéis como coadjuvante e então ganhar seu lugar como uma das atrizes mais importantes do mundo. Ela relata sua experiência como figurante em “Quo Vadis” (com Elizabeth Taylor).

Detalhe para a cena da dança ao som de Elza Soares. Ah, gente, eu amei. Ela e o filho contam como a cena foi natural, a maneira como eça vai se soltando aos poucos e termina curtindo o momento. Dá vontade de dançar junto. E ele conta que Sofia ama música brasileira e que sabia que essa cena ia ser divertida por isso.

Apesar de ser considerada uma das mais importantes atrizes do mundo, ela afirma que o filme que mais a marcou foi este.

Outro relato que me emocionou: Ela diz que o segredo para o sucesso das atuações foi ela se apoiar em sua própria idade. As dificuldades, fraquezas e belezas de uma vida aos 86 anos. Eu me emocionei e e esse já é um forte argumento para você assistir ao filme!

Confira a música que concorre ao Oscar (veja até o final, Sophia aparece!)

Related Posts

Publicidade também é Cinema!

Publicidade também é Cinema!

Hoje vamos falar um pouquinho da realidade publicitária, que usa as mesmas ferramentas cinematográficas para se comunicar com o espectador. São inegavelmente complementares, mas com algumas peculiaridades: Marcas cada vez mais procuram associações conceituais que se aproximam do cinema e filmes precisam de espaços publicitários […]

De volta aos cinemas, ‘Incêndios’ revelou Denis Villeneuve

De volta aos cinemas, ‘Incêndios’ revelou Denis Villeneuve

Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2011, “Incêndios” voltou aos cinemas brasileiros, 15 anos após seu lançamento, agora remasterizado em 4k. O aclamado drama franco-canadense continua em cartaz no Reserva Cultural (Av. Paulista, 900), em sessões únicas durante a semana. Adaptação da peça […]



Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *