Guillermo del Toro (“O Labirinto do Fauno”, “A Forma da Água”) é um mestre na construção de universos fantásticos, oníricos e, por vezes, sombrios, como na sua recente versão de “Frankenstein” (agora na Neflix). Cineasta de origem indiana, Tarsem (ou Tarsem Singh) faz algo parecido com “Dublê de Anjo”, uma fábula como você nunca viu, com visual impressionante, disponível na plataforma MUBI.
Tarsem começou sua carreira realizando comerciais e videoclipes como “Losing My Religion”, da banda R.E.M, e fez sua estreia na direção com o suspense “A Cela” (2000).
Inédito nos cinemas brasileiros, “Dublê de Anjo” (The Fall) é seu filme mais ambicioso e pessoal, com sua narrativa construída a partir dos olhos e da imaginação da pequena Alexandria (Catinca Untaru), que passa a ouvir as histórias delirantes de Roy (Lee Pace, da série “Pushing Daisies”), um dublê atormentado em recuperação num hospital de Los Angeles, nos anos 1920.
Com inúmeras referências e citações visuais (“Andrei Rublev”, “O Mahabharata”), Tarsem revela fatos importantes da história já na bela sequência de créditos iniciais, ao som da sinfonia nº 7 de Beethoven. Financiado com recursos do próprio diretor, o filme foi um fracasso no seu lançamento, com críticas mistas e lançamento em poucas salas nos EUA. Porém, foi ganhando status de cult com o tempo e, no ano passado, foi restaurado em 4k pela MUBI, sendo relançado em cinemas dos EUA, Canadá e vários países da Europa. Além de ser descoberto por mais cinéfilos na plataforma de streaming.
Vencedor do prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Sitges (Barcelona, Espanha), “Dublê de Anjo” recebeu ainda a Menção Especial – Generation 14plus – Best Feature Film – no Festival de Berlim, em 2007.
Filmado ao longo de quatro anos em mais de 20 países, incluindo Índia, Itália e África do Sul, o épico de fantasia destaca-se também pela equipe técnica, com nomes como a figurinista Eiko Ishioka, vencedora do Oscar de Melhor Figurino por “Drácula de Bram Stoker”, em 1993. Sem falar na direção de fotografia, espetacular, assinada por Colin Watkinson (premiado com o Emmy pela série “O Conto da Aia”), que filmou quase tudo em locações reais, com mínimo uso de efeitos de CGI.
Mais do que uma extravagância visual, “Dublê de Anjo” é uma declaração de amor à magia do cinema, e um triunfo da imaginação de seus realizadores.

Créditos da equipe de Cabelo e Maquiagem:
Kevin Epstein – hair stylist
Kerry September – key make up artist (equipe de Bali, na Índia)
Kerry Skelton – cabelo e maquiagem
Leon von Solms – makeup designer
Yogesh Yewale – makeup artist (Índia)
EIKO ISHIOKA (1938-2012)

UMA ARTISTA REVOLUCIONÁRIA
Figurinos para cinema e teatro, cenografia, direção de videoclipes e comerciais, capas de disco, uniformes para as Olimpíadas de Inverno. É difícil resumir em poucas linhas a abrangência do trabalho da designer Eiko Ishioka.
Nascida em Tóquio (Japão), em 12 de julho de 1938, formou-se em Belas Artes em 1961. Começou a trabalhar com publicidade e propaganda, e em 1973 dirigiu seu primeiro comercial. A partir dos anos 1980, expandiu sua atuação para diversos campos artísticos, em especial o cinema, tornando-se a mais versátil e renomada diretora de arte do Japão.
Em 1985, seu trabalho (desenho de produção e figurinos) em “Mishima – Uma Vida em Quatro Tempos” chamou a atenção do produtor executivo Francis Ford Coppola – que, impressionado, a contrataria anos depois para criar os deslumbrantes figurinos de “Drácula de Bram Stoker” (1992), premiados com o Oscar.
A parceria com o diretor Tarsem Singh começou em 1999 e rendeu quatro filmes: “A Cela” (2000), “Dublê de Anjo” (2006), “Imortais” (2011) e “Espelho, Espelho Meu” (2012), releitura de Branca de Neve com Julia Roberts de vilã. Este último valeu à designer e figurinista sua segunda indicação ao Oscar, póstuma, em 2013.



Entre os inúmeros trabalhos de Ishioka, destacam-se ainda a capa do disco “Tutu” (de Miles Davis) – que lhe valeu o Grammy em 1987 –, o polêmico videoclipe “Cocoon” (com Björk) e os figurinos usados pelo Cirque Du Soleil no espetáculo “Varekai”.
A artista faleceu em 21 de janeiro de 2012, aos 73 anos, vítima de câncer no pâncreas. O cinema ficou mais sem graça (e menos original) sem seu talento – e busca constante por inovação.
Pesquisa e texto: Eduardo Lucena

