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Entenda porque “A Substância” levou o Oscar de Melhor Maquiagem e Cabelo

Entenda porque “A Substância” levou o Oscar de Melhor Maquiagem e Cabelo

Premiados por seu trabalho no filme escrito e dirigido por Coralie Fargeat, Pierre Olivier Persin (responsável pelos efeitos de maquiagem e próteses), Stéphanie Guillon (maquiadora chefe) e Marilyne Scarselli (hair stylist e hair supervisor) conseguiram impactar público e crítica com a incrível transformação de Demi Moore e Margaret Qualley.

Os três artistas franceses já haviam sido premiados em fevereiro pelo MUAHS, o sindicato dos maquiadores e cabeleireiros de Hollywood, o que fez deles favoritaços à estatueta dourada na festa do Oscar. Assim como Moore, que já tinha levado o prêmio do Sindicato dos Atores de Hollywood, o SAG Award, de melhor atriz, entre outros prêmios na temporada, mas perdeu o Oscar na reta final para a jovem Mikey Madison, de “Anora”, espelhando de forma irônica o tema do etarismo denunciado em “A Substância”.

Pierre Olivier Persin em seu ateliê, cercado de manequins, próteses e moldes de cabeça usados em “A Substância”

Outro ponto que contribuiu para a vitória da equipe francesa é que, nos últimos 15 anos, a maioria dos vencedores da categoria de Melhor Maquiagem e Cabelo (ou Penteado) envolve um trabalho impressionante de transformação de personagem, por meio de maquiagem protética.

Desde, por exemplo, “O Lobisomem”, premiado em 2011, passando por “A Dama de Ferro”, em 2012, “O Grande Hotel Budapeste” (envelhecendo Tilda Swinton, por exemplo), em 2015, “O Destino de uma Nação” (que transformou Gary Oldman em Winston Churchill), em 2018, até, mais recentemente, “A Baleia”, com Brendan Fraser, em 2023.

Segundo Pierre Olivier Persin, especialista em efeitos e maquiagem protética com experiência em nada menos do que a série “Game of Thrones”, um dos maiores desafios de “A Substância” foi criar a versão deformada e envelhecida de Elisabeth (papel de Moore) no segundo ato.

Para essa transformação (que lembra fisicamente o “Gollum” de “O Senhor dos Anéis”), Persin e sua equipe usaram efeitos práticos, como maquiagem protética, traje de látex, argila, silicone e até um boneco em tamanho real da caracterização de Moore. O processo de aplicação da maquiagem protética na atriz levava em média 6 a 8 horas por dia.

Demi Moore na sala de maquiagem recebendo a aplicação de próteses
O especialista em efeitos de maquiagem Pierre Olivier Persin com o boneco em tamanho real

Além das cenas com a atriz usando próteses, principalmente em close-ups, foi empregada também uma dublê de corpo extremamente magro para filmagem de algumas cenas.

Mas quem viu o filme sabe que a mutação mais desconcertante vem no final, quando a versão jovem da protagonista, Sue – encarnada por Margaret Qualley – se transforma num monstro. Persin e Fargeat levaram dois meses para chegar ao design de “Elisa-Sue”, ser híbrido que reúne traços tanto de Elizabeth (papel de Moore) quanto de Sue (Qualley).

Segundo Persin, Fargeat queria uma “mulher elefante”, referência ao personagem-título de O Homem Elefante, drama dirigido por David Lynch. Só o efeito da fenda que se abre (e que depois é costurada) nas costas da protagonista para gerar Sue envolveu a criação de dois manequins de silicone simulando as costas da estrela de “Ghost”. Em algumas cenas, vemos o corpo de Moore maquiado, noutras, o manequim ou uma dublê.

Acima: John Hurt em “O Homem Elefante” (1980), referência para o monstro “Elisa-Sue” de “A Substância”(2024)

Assim como com Moore, foi utilizada uma dublê de corpo para Qualley em algumas cenas, especialmente aquelas envolvendo o banho de sangue no desfecho, para o qual Persin e sua equipe usaram cerca de 25 mil litros de sangue falso.

O design do “monstro” envolveu o escaneamento dos corpos das duas atrizes principais. Qualley teve de usar um traje de látex formado por próteses corporais feitas a mão, usando materiais como gel de silicone, e que depois foi acrescido de lentes, dentes e cabelo (DETALHE: um fio de cada vez!).

Margaret Qualley e Demi Moore em mutação
Coralie Fargeat ajeita o traje de “Elisa-Sue” na sequência final
Moldes de cabeça de “Elisa-Sue”

A promissora atriz, filha de Andie MacDowell (de “Quatro Casamentos e um Funeral”), usou essa pesada maquiagem por dez dias, o que lhe causou problemas de pele que persistiram após as filmagens (e que ela, thank God, já se recuperou). Só a cabeça do monstro levava duas horas e meia para ser ajustada.

NOTA DA MIRELLA: São sacrifícios como esses que os atores passam nesse tipo de produção que o espectador não faz ideia. É dessa comunhão entre ator/atriz e equipe de maquiagem que sai uma grande caracterização. Caracterização que ajuda a criar grandes personagens e, consequentemente, grandes trabalhos como “A Substância”, goste ou não do gênero.

Com suas reflexões sobre a obsessão da sociedade com a beleza – e sobretudo o tratamento das mulheres na sociedade –, o filme continua a levantar discussão, meses e meses após sua estreia no Festival de Cannes, em maio do ano passado. Mas foi o trabalho impressionante de seus maquiadores e cabeleireiros que entrou para a história do Oscar.



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