Curso de Maquiagem Cinematográfica e Entrevista com Bruna Nogueira

Curso de Maquiagem Cinematográfica e Entrevista com Bruna Nogueira


Bruna Nogueira, fundadora do Hollywood Makeup Lab em Los Angeles e Mirella Oliveira, fundadora do Maquiagem no Cinema ministram curso no Brasil

Em 10 encontros, sempre às segundas, quartas e sextas-feiras das 9h30 às 12h30, conheça as técnicas ministradas pelo Hollywood Makeup Lab, que forma profissionais para trabalhar com maquiagem e cabelo para Cinema e TV.


Programa do Curso:

  • Beleza e Cabelo para Cinema e TV
  • Efeitos Especiais para Cinema (cortes, queimaduras, hematomas, tatuagens, barbas, bigodes, careca e próteses)
  • Estudo de técnicas para criar a harmonia entre a maquiagem e o penteado na concepção da personagem.
  • Airbrush
  • Cores de pele
  • Maquiagem para câmera em HD
  • Como combinar paleta de cores da maquiagem junto dos departamentos de Arte e Figurino
  • Estudo e concepção das personagens do Roteiro: como ler o script e materializar a personagem em conjunto com os olhares do diretor e autor.
  • Como fazer maquiagem para a luz e como interagir com o diretor de fotografia.
  • Anamnese do ator e criação da personagem
  • Participação da maquiagem no estudo do elenco (Casting)
  • Preparação das ferramentas específicas para o set de filmagem.
  • Postura e comunicação do maquiador junto à produção e direção no Set.
  • Criação de Portfólio para a industria cinematográfica.


Docentes:


Com mais de 70 filmes em Hollywood e 10 séries de TV, Bruna Nogueira é uma das maquiadoras emergentes da indústria audiovisual americana. Entre seus trabalhos estão “CSI: Nova York”, “Teen Wolf”, e “Jogos Vorazes – Em Chamas” (EUA) e no Brasil “Meu Amigo Hindu” e “Abe”.
 
Além disso, se dedica em produções executivas, com projetos como “The Open House” (Netflix), “Summer Night” (Atlanta Film Festival) e “Duke” (Festival de Cannes). 

Formada em cinema na Escola Panamericana de Arte, Bruna trabalhou com produção artística no MIS (Museu da Imagem e do Som) e há mais de 10 anos integra o time de maquiadores da ‘Union Local 706’, cujos membros são autorizados a trabalhar em sets de filmagens em Hollywood e por todo o mundo.

Também é proprietária da conceituada escola de técnicas para maquiagem com efeitos especiais Hollywood Makeup Lab, que deu origem ao livro homônimo que escreveu. Bruna ainda é designer da linha de pincéis
Special FX Brush Set da Sigma Beauty. De jovem em início de carreira em Sampa à maquiadora artística de sucesso em Hollywood, Bruna trilhou um longo caminho para construir a bagagem e expertise que procura dividir com aspirantes e profissionais de cinema. É dessa troca nos famosos Makeup Labs que ela divide suas experiências, inspirando diferentes
gerações de maquiadores a seguir seus sonhos.

Mirella Oliveira
Mirella Oliveira

Maquiadora especializada em cinema e publicidade, com graduação pelo Instituto L ́Oréal Professionnel e aperfeiçoamentos nas áreas de caracterização e efeitos especiais pelo Hollywood Makeup Lab – Los Angeles. Atualmente presta serviço para as maiores produtoras nacionais, fazendo parte da equipe da maquiadora Carla Carrasco em São Paulo-Brasil, que representa papel importante de atuação na área publicitária. Atua, também, em longas-metragens, fazendo parte da equipe de Bruna Nogueira, autora do livro Hollywood Makeup Lab e fundadora da escola de mesmo nome, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Mirella Oliveira, além de maquiadora, é fundadora do Blog “Maquiagem no Cinema” e possui grande vivencia na área corporativa e acadêmica, é formada em Psicologia e pós-graduada em Administração de Recursos Humanos pela FAAP, atuando também como executiva na administração do site da 2001 Vídeo.

Para saber detalhes do curso como agenda e valores, clique na imagem abaixo:


Confira a entrevista com Bruna Nogueira:


1) Como foi sua trajetória, desde sua formação no Brasil até se tornar maquiadora artística em Los Angeles?

Bruna Nogueira: O Brasil me deu uma grande base para me tornar o que sou hoje nos Estados Unidos: frequentei a Escola Panamericana de Arte, trabalhei no MIS, em produções nacionais. Tudo isso agregou muito quando cheguei nos EUA, onde ingressei de verdade no universo cinematográfico. Ganhei confiança para entender a visão de um diretor, participar da criação de um personagem, foi um upgrade na minha realidade, no meu aprendizado. Hoje sei produzir, conheço a fotografia.


2) A atuação na sua área é mais abrangente do que a maioria das pessoas pensa, vai muito além de ser apenas “maquiadora”. 

BN: A maquiagem vai muito além, é como você cria um personagem, é entendê-lo, suas cores e como iluminá-lo num grande “espelho” que é a tela de cinema. É preciso ter um conhecimento incrível de cores e luzes, nisso a faculdade de cinema que fiz no Brasil me ajudou muito. A gente cria uma ilusão para uma luz, para ficar bonito no cinema. Não é só maquiagem, criamos um personagem com a visão do diretor – e como refletir essa visão é um trabalho muito mais intenso, tem que ser delicado e limpo, com a realidade do personagem refletida ali. Muitas vezes vemos uma maquiagem pesada, e ali não tem uma historia. No cinema temos a maquiagem clean, mais realista, e temos a maquiagem “suja”, de efeito, com sangue, sujeira. Em ambas, tudo ali tem um sentido, uma razão de ser.


3) O que te inspira no seu trabalho?

BN: Usamos as imperfeições para que a maquiagem seja realizada, o olho tem que ser claro, limpo. Enfim, o maquiador no cinema tem que estudar e estar aberto pras novidades, dando continuidade a seu aprendizado. Tem que ser visionário, enxergar além do óbvio, com o olhar das lentes como sua prioridade. Maquiagem eu aprendo todos os dias, e digo que não faço somente a maquiagem, eu faço efeitos especiais, cabelo e estudo muito a luz e as cores. Estou sempre aprendendo a pintar ou esculpir, pois quem faz maquiagem para cinema tem que ter um histórico de vida e muitas experiências.

Quando um diretor te propõe um tipo de trabalho, você precisa ter muita confiança e bagagem para assumir uma responsabilidade que vai muito além do que você imagina, e ter consciência do que o diretor espera, assim como sobre o investimento naquele filme. É a pratica e o estudo que vão determinar seu sucesso e é assim que se chega à perfeição. Enfim, o que te faz um maquiador de verdade, nessa área, é sempre estar aberto às novidades, praticar muito, saber ouvir e não achar que sabe demais.


Passei por uma fase em minha vida em que tive vários maquiadores que admirava e achava incríveis, mas cada um tem sua arte. Por exemplo, não é minha especialidade fazer body paint. Me inspiro em todas as pessoas que vieram antes de mim, em quem faz uma careca maravilhosa ou uma barba realista, ou que cria um monstro maravilhoso. Me inspiro em todos eles, mas no final é sua história, tem algo de mim ali? Sou o reflexo de todos eles, o céu é o limite e a perfeição vem com a prática. Ao mesmo tempo em que nos inspiramos nesses profissionais incríveis, precisamos olhar dentro de nós e encontrar essa luzinha que nos inspira a realizar o nosso melhor.


4) De onde surgiu a ideia de escrever “Hollywood Makeup Lab“? 


BN: Foi uma coisa incrível. As portas do cinema se abriram para mim através da maquiagem, e em 3 anos e meio passei a fazer parte da MPAA (Motion Picture Association of America), que é algo muito difícil de conseguir nesse meio – ainda mais em tão pouco tempo. Então, ao invés de investir em fotografia e ganhar dinheiro com capas de revista ou casamentos, investi meu trabalho em filmes de estudantes que ganharam visibilidade e me levaram ao time de maquiadores da ‘Union Local 706’. Eu era muito jovem, ainda não falava bem inglês e tinha de competir só com feras da área, e então veio a ideia de criar o “Hollywood Makeup Lab”, composto por 10 dias intensivos de workshops com os melhores do meu ofício. Em um dia, por exemplo, vinha o Ed France, o melhor maquiador de careca, noutro o Don Blake para cabelo, e participavam alguns dos melhores maquiadores para ensinar sua arte a pessoas de todo o mundo. Os maquiadores precisavam passar por um teste que exige conhecimentos de cabelo, cicatrizes, etc, passei e tive a ideia do livro. Por que não ensinar a profissionais sem experiência com efeitos o trabalho em séries de TV como “Teen Wolf” ou “CSI”?


O projeto cresceu de uma forma tão grande que fui procurada por uma publicitária de Nova York querendo escrever um livro sobre maquiagem baseado nos workshops. Falei: olha, vocês escolheram a pessoa errada, porque eu não sei falar inglês direito e muito menos escrever um livro. Encontraram então a Diane Hamm para escrever o texto final e fizemos o livro em 1 ano e meio. O mais engraçado foi que disseram “Bruna, achávamos que íamos fazer um livro e não um filme inteiro”, e foi assim que nasceu o “Hollywood Makeup Lab”, e sou muito agradecida por isso.


5) O livro faz parte de uma faceta importante de sua carreira, que é dividir conhecimento, suas experiências, também por meio de cursos… 

BN: Acredito que é muito válido ter um curso de cosmetologia, aprender cabelo, aprender a “fundação” de todo o corpo primeiro. A maquiagem é só um complemento de quem faz cabelo. Na verdade, fazer só maquiagem ou entrar num curso específico de maquiagem não vale tanto à pena se você não souber fazer cabelo. Vai muito além disso e para quem quer aprender efeitos especiais não precisa investir muito dinheiro, pode ser um curso rápido, entende? Pois se você aprender a fazer careca um dia e depois praticar, com o dinheiro que ganhar para fazer uma maquiagem de efeito é possível investir em um LAB. Quem investe muito dinheiro, uma fortuna, para estudar numa escola de efeitos, pode acabar desperdiçando suas economias, porque na verdade você não aprende, guarde seu dinheiro para investir em tua carreira, arrumar emprego nos laboratórios onde se criam as ideias e projetos… e praticar muito.

Aprender com pessoas diferentes todos os dias, com ideias diferentes. Informações de fontes variadas, e não investir numa só escola.

Bruna Nogueira, com uma de suas criações, durante um de seus laboratórios de maquiagem


6) Você já trabalhou tanto em produções independentes como em grandes filmes hollywoodianos. O quanto o tamanho de cada uma interfere no processo de um maquiador?

BN: Trabalhei muito em filmes independentes e ainda continuo, porque foram eles que me trouxeram pra grande tela do cinema, então a gente sempre tem que lembrar dos pequenos, é a partir deles  que nos tornamos grandes e, infelizmente, muitas pessoas que crescem no meio se esquecem disso, de onde vieram, de quem realmente somos.

Imagine, em um projeto de 1 milhão de dólares ou num projeto de mil dólares, você tem que se encaixar naquela realidade, você não cria uma determinada maquiagem como um padrão ou a adapta para aquele investimento. Sua responsabilidade é uma só: a maquiagem deve ter a mesma excelência, a mesma qualidade, tanto em um trabalho menor como em um maior, pois, é teu nome, a tua arte que será avaliada. Muitas vezes questionam que seu valor é muito alto, não é essa a questão, mas sim a busca dessa perfeição. Tenho noção dessa grande responsabilidade e, a partir do momento que assumo isso, o trabalho vai surgindo, sendo criado, nascendo e crescendo dentro de mim… até chegar ao resultado na tela. É como o trabalho de uma bailarina, que sempre busca a perfeição.

7) Como foi trabalhar com Willem Dafoe e, especialmente, Hector Babenco em seu último filme?

BN: Trabalhar com o Willem Dafoe foi incrível porque era um ator que sempre admirei muito e, ainda mais no Brasil, em um ambiente que não era tão familiar para ele, tornou a experiência ainda mais desafiadora. No Brasil teve que ser na cara e na coragem, com a confiança de que eu faria um bom trabalho. Antes de mais nada, foi uma loucura receber o convite, uma ligação, para fazer um trabalho para quem? Hector Babenco, uma lenda do cinema. Ele escolher uma pessoa que vem do outro lado do mundo, que ele nunca viu, para fazer uma versão da vida dele. Tive essa honra, de fazer seu último filme, ainda mais sobre a vida dele! Acho que foi uma das grandes oportunidades que tive no Brasil, esse trabalho veio para provar que estou no caminho certo. Além de ser escolhida por um diretor que fez tantos filmes importantes para a história do cinema, tive a honra de transformar ele no Willem Dafoe. Falam que o Babenco é difícil, mas trabalhar com ele foi incrível, era preciso apenas ouvir o que ele tinha a dizer. Foi incrível e a melhor experiência que eu podia ter no meu país.

Último filme da carreira de Hector Babenco, MEU AMIGO HINDU narra a luta de um cineasta famoso, Diego (Willem Dafoe), para sobreviver a um tumor em estágio avançado. O delicado trabalho de maquiagem de Bruna Nogueira — fundamental na caracterização do ator principal e sua degradação física na tela — foi indicado ao GRANDE PRÊMIO DO CINEMA BRASILEIRO 2017.

Outra experiência importante foi estar dentro de um hospital por alguns dias, acompanhando a jornada do Babenco, observando e convivendo com os pacientes num momento tão delicado da vida dele. imagine a responsabilidade de representar esse momento do diretor em um ator, o quanto isso pode ter mexido com ele – e ainda ter sua aprovação.

8) Fale sobre a relação de cumplicidade criada entre atores e maquiadores. 

BN: Eu acho que é importante, pois nós criamos os personagens, ficamos com os atores 24 horas, basicamente somos babás deles, desde a hora que chegam no set até a hora que vão embora, trabalhamos no rosto deles o tempo todo. Tem que ter paciência, bom ouvido, tratá-los com muito amor, com atenção — eles estão sensíveis –, e também dar o espaço que eles precisam. Dar confiança para que saibam que estamos ao lado deles o tempo todo, e cuidar bem deles.

9) Com o avanço das novas tecnologias, criou-se também um dilema para o pessoal da sua área, com as imagens em alta definição expondo ainda mais detalhes ou mesmo imperfeições do rosto… 

BN: Acho que gosto da câmera HD, porque ela mostra a realidade, a verdade que nós somos, a verdadeira fotografia dos nossos rostos, não a imperfeição, pois nós não somos imperfeitos. Exige-se muito mais da maquiagem, que deve ser mais clean, definida e sem exageros. Antigamente, tínhamos que olhar um rosto para ser emoldurado, são duas técnicas diferentes. Eu simplesmente amo essa tecnologia, considero um super avanço, e, na realidade, quem é artista deve estar preparado para pintar em qualquer tela.

Participante de um dos Makeup Labs criados por Bruna

10) Há algum tipo de maquiagem que você goste mais de fazer?

BN: Não existe nenhuma maquiagem que eu tenha preferência em fazer, adoro qualquer tipo dela. Se tenho que fazer efeitos especiais, darei 100% de mim, se é maquiagem normal, filme grande, filme pequeno, um casamento, uma criança, enfim, para mim cada trabalho é um trabalho, tem o mesmo valor. Não acredito que uma bailarina só dance melhor quando está sendo bem paga. Nenhum ator é bom só porque está sendo bem pago, não é por aí. É pela sua arte.

11) O que vem por aí para Bruna Nogueira?

BN: Está sendo um ano incrível, com filmes em que tenho mais oportunidade de participar da produção e me dedicar à minha paixão de fazer cinema. Algumas novidades, como um novo longa com Dylan Minnette (estrela de “13 Reasons Why”) chamado “Open House”, e um filme de terror que vai ser a sensação do Halloween, “Tragedy Girls”. Há propostas em andamento para projetos no Brasil, em Atlanta e Roma. E tem muitas novidades pro ano que vem, fecho o atual com muita alegria e muitos finais felizes.

Ainda estou lapidando meus caminhos… que venham os gigantes — e os Oscars que me aguardem (risos).


Texto e entrevista por Eduardo Lucena, do Blog 2001 Indica (2001 Filmes)


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